quarta-feira, 14 de abril de 2010

Presidente do PV frances é apenas uma "morena comum" do subúrbio

Cecile Duflot, presidente do Partido Verde da França, é uma estrela crescente na política parisiense. Após o sucesso do seu partido no Parlamento Europeu e nas eleições regionais do mês passado, Duflot talvez se torne uma peça-chave na próxima eleição presidencial da França -uma campanha na qual um trio de mulheres pode derrubar Nicolas Sarkozy.
"Nós tivemos sorte por vencer duas vezes", começa Cécile Duflot com um grande sorriso. "Primeiro nas eleições em junho, e agora nas eleições regionais". Ela ainda sabe os números de cor: "2,7 milhões de franceses votaram em nós" e elegeram "265 delegados em 22 assembleias". Mas então, o microfone falha.
"Algumas coisas nunca mudam", diz a jovem do palco, rindo, brincando sobre o caos organizacional já esperado no Partido Verde. Depois, para confirmar a união do movimento, acrescenta: "Estamos juntos e vamos permanecer juntos". Os 200 delegados da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (Cfdt), uma importante união de sindicatos do país, ovacionavam-na.
Ela é afiada como uma faca, de reações rápidas, formou-se em uma escola de negócios respeitada em Paris e tem o rosto de uma Madonna. Duflot tem todas as qualidades necessárias para uma carreira em política. Ainda assim, mesmo quando foi eleita dirigente do Europe Ecologie, o Partido Verde francês, há três anos, ninguém realmente acreditava que desempenharia bem o papel. "Jovem, fotogênica, agradável, mas totalmente desconhecida", escreveu o jornal de esquerda francês Libération.
Os verdes podem ser decisivos nas eleições francesasRecentemente contudo -particularmente desde que as eleições regionais francesas deram ao presidente Nicolas Sarkozy uma amarga derrota há três semanas- Duflot tornou-se uma estrela política. Sob sua liderança, o Europe Ecologie reuniu 12,5% dos votos. Com esse resultado, os verdes finalmente tornaram-se o terceiro partido político na Grança, após os socialistas -o que não é um pequeno feito em uma nação onde o número de estrelas que o guia Michelin dedica a um restaurante fino muitas vezes recebe mais atenção do que a política ambiental.
Com isso, os verdes também se tornaram decisivos. O fato de Duflot ter feito uma conferência com a imprensa junto com suas colegas, a líder do Partido Socialista Martine Aubry e do Partido Comunista, Marie-George Buffet, no Café de L'Industrie, no bairro chique de Paris da Bastille, foi simbólico. O trio de mulheres na direção dos três partidos pode ser o fim do reinado de Sarkozy.
A líder socialista Aubry e sua colega de partido Ségolène Royal agora serão forçadas a levar os verdes à sério -especialmente se Duflot cumprir seu plano de apresentar um candidato do Partido Verde para as eleições presidenciais de 2012. O partido de Duflot não deve declarar qual partido vai apoiar até pouco antes do segundo turno das eleições. Isso pode deixar Duflot fazendo importantes decisões sobre as carreiras de Aubry e Royal, que querem tentar novamente a presidência.
Uma "morena totalmente comum do subúrbio"Mais de um terço dos franceses acham Duflot, que tem 34 anos e quatro filhos, agradável. Ao mesmo tempo, contudo, mais de 60% nem sabiam seu nome há poucos meses -e isso apesar do fato dos verdes terem tido coletivamente 16,3% dos votos nas eleições parlamentares europeias, quase superando os socialistas. Nas eleições em junho, contudo, Daniel Cohn-Bendit, membro antigo do Partido Verde, foi a principal pessoa nos holofotes da campanha. Devido ao seu papel no movimento de protesto estudantil na França, Cohn-Bendit continuou popular entre os eleitores. Duflot estava por trás das cenas, sem grandes ambições, e descreveu-se como "uma morena baixa, totalmente comum, do subúrbio". Ela não estava brincando. Nascida em um subúrbio parisiense, Duflot agora mora em Villeneuve-Saint-Georges, no limite sudeste da cidade. Quando está na cidade, também usa transporte público.
Filha de um funcionário da ferrovia e de uma professora, Duflot descobriu cedo como se virar com recursos limitados. Sua mãe, Marie-Paule, conservava água, reciclava roupas e até separava o lixo, em uma época em que esse tipo de comportamento na França era considerado por alguns como uma espécie de piada alemã. Bonecas da Barbie e brinquedos que usavam baterias eram proibidos, e a jovem Duflot tocava violoncelo e fazia teatro. Quando a família ia acampar nas férias, viajava de trem. E quando seus pais tornaram-se ativos no sindicato do Cfdt, Duflot envolveu-se na conservação da natureza junto à Liga de Proteção de Aves e aos Jovens Cristãos Trabalhadores. Mais tarde, graduou-se em uma das principais escolas de negócios da França, Essec, e começou sua carreira em uma firma que constrói conjuntos habitacionais.
A mais jovem líder de partido verde francês de todos os temposQuando Duflot uniu-se aos verdes, em 2001, o partido estava abalado por disputas pessoais e brigas de facções. A jovem mãe impressionou os ativistas com seus talentos organizacionais e seu compromisso com o que fazia. Ela trabalhava duro e era firme, mas nunca agressiva. Em janeiro de 2005, foi nomeada porta-voz do partido; e em dezembro de 2006, o partido escolheu-a como líder. Ela tinha 31 anos.
É verdade que não tinha experiência. Seus discursos não tinham ritmo, e sua voz ia ficando mais alta. A própria Duflot disse na época que tinha "o carisma de uma ostra". Mas aprendeu rapidamente e conseguiu unir o grupo eclético de indivíduos que constituem o Partido Verde. A bagunça sectária tornou-se mais estruturada e o pequeno campo de especialidade ambiental dos verdes foi suplementado por políticas educacionais, econômicas e sociais. Em 2008, foi reeleita para o mais alto cargo por 71% do partido, conquistou partidários da esquerda e, junto com Cohn-Bendit, fundou o Europe Ecologie, que uniu verdes alemães e outros partidos políticos menores para concorrer às eleições do Parlamento Europeu.
O reconhecimento dos eleitores do Europe Ecologie continuou com as eleições regionais da França do mês passado. Como candidata de maior sucesso dos verdes na região de Ile-de-France, Duflot tornou-se vice-presidente do conselho regional do distrito economicamente importante, que inclui Paris. Apesar de Duflot ser vice-presidente junto a um político socialista, esse novo cargo faz com que finalmente saia da sombra de seu mentor, Cohn-Bendit.
Uma série de fãs de Duflot querem que lance sua própria campanha para a presidência francesa, mas por enquanto ela não quer ter nada a ver com isso.
"Para mim, é sobre minhas ideias, não sobre a minha pessoa", explica. E isso talvez tenha algo a ver com algumas palavras sábias que o pai dela costumava dizer, do tipo: "Não ligo par ao que as pessoas estão dizendo sobre mim pelas minhas costas."
Fonte Der Spiegel

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