quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sem acordo, deputados deixam votação de Ficha Limpa para maio

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Brasília - Mesmo após seis meses de debate, a maioria dos líderes partidários da Câmara dos Deputados quer mais tempo para colocar em votação o projeto Ficha Limpa. A proposta, que torna mais difícil a candidatura de políticos com problemas na Justiça, estava prevista para ser votada ontem em plenário, mas só deve entrar na pauta em três semanas. A demora inviabiliza que o texto já possa valer para as eleições de outubro. Para isso ocorrer, o projeto deve ser aprovado e sancionado até junho.

A expectativa de decidir o assunto rapidamente foi enterrada pela ação de nove partidos da base aliada ao governo Lula. Líderes do PT, PMDB, PP, PTB, PR, PSB, PCdoB, PDT e PMN se negaram a assinar o requerimento de urgência necessário para a matéria ser votada logo em plenário. Com isso, o texto foi encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A urgência, que agilizaria a votação em plenário, só contou com o apoio de PSDB, DEM, PPS, PSC, PSOL, PHS e PV.

O projeto de iniciativa popular que dificulta a candidatura dos chamados fichas-sujas foi organizado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e conta com 1,6 milhão de assinaturas. O texto original chegou à Câmara no dia 29 de setembro de 2009 e foi debatido por um grupo de trabalho com representantes de todas as legendas por 40 dias. O conteúdo foi modificado em alguns pontos e transformou-se em um substitutivo do relator, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), que inclui a necessidade de condenação por um tribunal colegiado para estipular a inelegibilidade – e não apenas a sentença em primeiro grau, como era previsto na primeira versão.

“Falar que não tivemos tempo para discutir é uma desculpa esfarrapada”, disse o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ). “Es­­­tamos passando por um processo nítido de enrolação”, definiu Vanderlei Macriss (PSDB-SP), que acompanhou a reunião que retardou a votação. Embora tenha atuado em conjunto, a oposição precisaria do apoio da maioria para conseguir dar urgência ao projeto.

O presidente da Câmara, Mi­­chel Temer (PMDB-SP), prometeu que tomará uma atitude sozinho caso a proposta fique estagnada na CCJ. “Não se pense que isso é estratégia para retardar, para alterar (a proposta), porque a presidência da Câmara tem a disposição de que se deve votar esse projeto”, declarou. Ele também ressaltou que cumpriu a promessa de colocar o texto em votação ontem, mas que o prosseguimento foi comprometido pela falta de um “acordo numérico” entre os líderes.

“Eu até vou anunciar mais ou menos uma data para a votação em plenário: será na primeira semana de maio, no mais tardar.” Apesar da previsão, a manobra de ontem esfriou as expectativas sobre a proposta. “Se fosse votado agora já seria difícil de valer para as eleições de outubro, com esse atraso fica praticamente impossível porque o Senado não vai conseguir votar até as convenções partidárias de junho”, disse o deputado paranaense Rodrigo Rocha Loures (PMDB).

Críticas

As críticas ao projeto estão relacionadas aos tipos de crimes e ao grau de condenação que leva à inelegibilidade. Partidos como o PR e o PP apresentaram extensos questionamentos sobre a constitucionalidade da matéria. Atual­­­mente, as regras estão definidas pela Lei Complementar 64/1990, que estipula a inelegibilidade apenas para candidatos condenados com sentença definitiva (transitada em julgado).

Além disso, atualmente apenas sete tipos de crime impossibilitam a candidatura. Pelo substitutivo de Índio da Costa, crimes contra o meio ambiente, a saúde pública e a dignidade social também passam a ser motivo de inelegibilidade. “Co­­­mo é que alguém que cortou uma árvore pode ser considerado inelegível?”, criticou o líder do PP, João Pizzolatti (SC). Segundo ele, nenhum partido se colocou contra a aprovação da proposta, mas a maioria acredita que é possível aprimorá-la. “Ou vamos fazer política, ou vamos fazer um projeto legal, que proteja a instituição (Câ­­mara)”, disse Pizzolatti.




Fonte: Gazeta do Povo

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